Gerenciamento do laboratório de cateterismo cardíaco do paciente com parada cardíaca extra-hospitalar: uma declaração científica da American Heart Association

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Título do artigo original: Cardiac Catheterization Laboratory Management of the Comatose Adult Patient With an Out-of-Hospital Cardiac Arrest: A Scientific Statement From the American Heart Association

Referência: Circulation

Autor do artigo original: Jacqueline E. Tamis-Holland

Co-autores: Venu Menon, Nicholas J. Johnson, Karl B. Kern, Alejandro Lemor, Peter J. Mason, Mary Rodgers, Gregory W. Serrao, Demetris Yannopoulos.

INTRODUÇÃO

A parada cardíaca extra-hospitalar é uma das principais causas de morte, sendo responsável por ≈50% de todas as mortes cardiovasculares.  O prognóstico desses indivíduos é ruim, com <10% sobrevivendo até a alta hospitalar. A sobrevida com evolução neurológica favorável é maior entre os indivíduos que apresentam ritmo chocável testemunhado, receberam ressuscitação cardiopulmonar imediata, alcançam retorno da circulação espontânea em até 15 minutos após a parada e têm evidência de supradesnivelamento do segmento ST no ECG inicial após o retorno da circulação espontânea.  O principal foco inicial do tratamento do paciente comatoso ressuscitado com parada cardíaca extra-hospitalar é minimizar o dano neurológico e tratar a condição subjacente que levou à parada para evitar deterioração hemodinâmica ou elétrica adicional.

A parada cardíaca súbita atribuível a causas cardíacas primárias pode surgir como resultado de vários mecanismos subjacentes diferentes. Estes podem ser divididos em 3 grandes categorias: isquêmicas, estruturais e elétricas. A patogênese mais comum, responsável por até 70% das paradas cardíacas súbitas, é a doença cardíaca coronária aterosclerótica.

O ECG pós-PCR tem um papel importante, mas existe uma alta falha na sensibilidade e especificidade. Entre pacientes sem supra de segmento ST no ECG, estudos têm mostrado uma ampla variação (3%–58%) que manifestam achados angiográficos sugestivos de oclusão coronariana aguda ou lesões culpadas na cineangiocoronariografia. No entanto, o Supra de ST também não é condição “sine qua non” para a oclusão de artéria. Cerca de 20% dos pacientes com supra de ST no ECG realizado em poucos minutos do retorno da circulação espontânea pós-PCR são falso-positivos, enquanto aqueles Ecg realizados em mais de 30 minutos do retorno do ritmo, apenas 5% são falso-positivo.

O laboratório de cateterismo cardíaco desempenha um papel importante na Cadeia de Sobrevivência coordenada para pacientes com parada cardíaca extra-hospitalar. O laboratório de hemodinâmica pode ser usado para fornecer suporte diagnóstico, terapêutico e de ressuscitação após parada cardíaca súbita de muitas causas cardíacas diferentes, mas tem uma importância única no tratamento da parada cardíaca resultante de doença arterial coronariana subjacente. Nos últimos anos, numerosos estudos têm esclarecido o papel do laboratório de cateterismo cardíaco no manejo de pacientes ressuscitados ou com parada cardíaca em curso. No entanto, quando há uma alta probabilidade (ou seja, >90%) de um desfecho neurológico ruim (baseado em escores como OHCA score, CAHP score), a equipe de tratamento deve avaliar cuidadosamente a situação clínica e os benefícios das terapias invasivas antes de prosseguir.

Assim, quando a equipe clínica não considerar futilidade, o paciente deve ser encaminhado para o laboratório de hemodinâmica precocemente quando:

  • Ocorrer supra no segmento ST em ECG >30 minutos do retorno do ritmo
  • Choque cardiogênico
  • Instabilidade elétrica
  • Instabilidade hemodinâmica
  • Embolia Pulmonar

Apesar dos atuais estudos clínicos randomizados não incluírem o cateterismo imediato de pacientes com ECG sem supra de ST pós-PCR, alguns estudos observacionais mostraram que até 1/3 desses pacientes apresentaram oclusão coronária. Nos últimos anos, 6 ensaios clínicos randomizados, incluindo 1591 pacientes examinaram o papel do cateterismo cardíaco imediato ou precoce em pacientes ressuscitados após PCR. Nesses estudos, 75% a 90% dos pacientes tiveram uma parada testemunhada, e 50% a 79% receberam RCP do espectador. Esses estudos falharam em mostrar uma diferença nos resultados de sobrevida com a cineangiocoronariografia precoce em comparação com angiografia tardia.

A abordagem do tratamento de pacientes com parada cardíaca e ECG com supra de ST ou choque cardiogênico refratário ou embolia pulmonar maciça na sala de hemodinâmica mimetiza o tratamento para pacientes sem parada cardíaca que apresentam condições semelhantes.

Esta declaração científica fornece uma atualização sobre a abordagem contemporânea para o manejo de pacientes ressuscitados ou com parada cardíaca contínua.